sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Confissões do latifúndio


Por onde passei,
plantei
a cerca farpada,
plantei a queimada.

Por onde passei,
plantei
a morte matada.

Por onde passei,
matei
a tribo calada,
a roça suada,
a terra esperada...

Por onde passei,
tendo tudo em lei,
eu plantei o nada.

Dom Pedro Casaldáliga

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Quem ainda sente, quem ainda sonha, acaba engolindo em seco, acaba segurando as lágrimas e fechando os pulsos. Prometemos a nós mesmos: por onde passar, plantarei a esperança!


sábado, 29 de janeiro de 2011

De volta...

Bom, vamos ver se consigo escrever algo.
Passei 23 dias no EIV(Estágio Interdisciplinar de Vivência). O que isso significa? Significa que fiquei quase sem contato com o mundo real - aquela brincadeira do bolhEIV faz sentido!
Durante esse tempo passamos uma fase de preparação, com discussões sobre uma pá de coisas que interessam àqueles que se pretendem a transformar a realidade em que se inserem(o mundo?). O mais difícil não era entender as discussões, mas aguentar uma rotina bem, mas BEM, pesada.
Depois disso, 10 dias de vivência em "áreas de reforma agrária" - leia-se MST - que ajudaram a assimilar muito do conteúdo visto e também fazer uma pausa na rotina desgastante. Além, é claro, de colocar uma porção de crises nas nossas cabeças auto-proclamadas revolucionárias. Tantas contradições, tanta ausência, tantas questões. É bem difícil chegar a uma conclusão, é bem difícil de conseguir entender a realidade e conseguir tirar daí algumas conclusões.
Depois voltamos ao colégio que nos internaram(sim, era quase um hospício, mas os loucos pareciam estar do lado de fora). A rotina volta a ser pesada, mas o clima de amizade ajudou muito a suportar tudo.
Mas enfim. Por que dizer algo sobre isso?
Só quero justificar minha ausência neste blog que pretendia ser um pouco mais constante.
Não tenho condições, hoje, de dizer muito sobre o EIV. Digo só que ainda tenho que conseguir digerir uma porção de coisas, colocar tudo em seu devido lugar.
E existe algo que vai me complicar bastante neste processo de assimilação: a realidade.
Tenho uma porção de coisas pra resolver em pouco tempo; e esse tempo todo longe deste mundo me fez perder um pouco a noção do tempo, e também a agilidade de raciocínio e resolução. Tá difícil de conseguir sentar e resolver tudo que tenho que resolver: ENECS e CACS, basicamente.
Mas é isso. Tô de volta, e logo construo melhor este blog, colocando um pouco mais de letrinhas nesta sopa.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Classe Média


É provável que uma boa parte daqueles que algum dia lerão isto aqui já conheçam essa música e talvez até já tenham visto o vídeo, mas eu o conheci a apenas alguns dias.

Apesar de ser extremamente caricata a apresentação que se dá da classe média, é uma caricatura válida. Talvez um exagero, com certeza uma generalização. Mas o é desta forma por identificar com clareza as regularidades do comportamento da classe média brasileira.

Pra mim a melhor parte da música, a parte que ilustra com a maior clareza a classe média, é "odeio coletivos e vou de carro que comprei a prestação". Tá aí o retrato da ideologia individualista e hipócrita de nossa classe média. Tá ai a classe média escondendo a sua condição real, emulando seu comportamento em comparação às elites brasileiras.

Não quero também exaltar as elites, pô-las como dignas de suas riquezas. Não! Não o são não por minha vontade, mas porque de fato não são. "Toda propriedade é um roubo", já disse Proudhon e toda a desigualdade deve ser combatida, dizem meus amigos.

Mas o que a música mostra é a forma com que a classe média, sob um discurso meritocrático e falsadamente democrático, contribui para a reprodução da desigualdade e para a permanência das (ausentes) condições de vida da população brasileira.

E algo que o vídeo mostra, em complementação perfeita com a música, é de como a classe média é tão vazia de significado que funciona como uma bela marionete da grande mídia.

Enfim, o vídeo é muito pedagógico, e isso talvez seja o que eu mais gostei dele. É crítico, porém não radical. Não se dirige para a militância, mas apenas desnaturaliza algumas questões do nosso quotidiano. Achei fantástico até mesmo para usar em sala de aula, quando for professor de sociologia no Ensino Médio.
Sem mais, fica ai a letra:

CLASSE MÉDIA

Max Gonzaga


Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal
Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio “coletivos”
E vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
Mais eu “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema
O assassinato é no “jardins”
A filha do executivo é estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
Porque eu não “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida



Começando...

Bom, é isso. Ano novo começando agora e resolvi voltar com isto daqui.
Há mais de um ano é que venho pensando neste blog, no que colocar, em não ser tão somente um espaço para devagar, ou um diário virtual; mas sim para, dentro dos limites do possível, sucitar alguma discussão.
Mas tampouco a idéia é que se torne um espaço de debate pura e simplesmente, não! A intenção era de colocar, informalmente, alguma opinião minha. Algum pensamento corriqueiro. A partir do momento em que expresso minha opinião tento também aprofundá-la, justificá-la, não a um terceiro, mas a mim mesmo. Um exercício de escrita, de lógica. E nesse exercício cabe espaço de ajuda alheia. Cabe espaço a que alguns amigos venham e digam: "Tá louco, PA?"(frase que o Pedro Mendes proferiu no meu facebook ontem).
É isso. Um esforço individual meu em busca de firmar minhas convicções, mas um esforço coletivizado, que busca dialogar com os próximos, compartilhar de boas conversas e aproveitar de boas críticas!
E por que agora? Por que começar agora? Bom, adiei por muito tempo, e achar desculpas pra isso é fácil; mas a verdade é que não tem um motivo único e nem uma razão de verdade. Deveria sim ter tido a disciplina de me forçar a escrever antes, mas não tive. "Vai fazer o quê? Vai matar?"(À la Firmínia...). E, tenho que confessar, a inspiração de hoje veio do Paulão que fez o blog dele hoje e que, então, fui dar uma olhada e fiquei com vontade de fazer igual...=p
Há também o santo incentivo do ócio. Tenho ficado os últimos dias praticamente o tempo todo na frente de um computador, pensando no que fazer, quando não to conseguindo ler um bom livro e nem to empolgando pra fazer os meus estudos necessários. Já arrumei meus e-mails, já arrumei meus arquivos no pen-drive(tava uma bagunça!), fiz minhas tarefas da organização do ENECS(Encontro Nacional de Estudantes de Ciências Sociais), fiz algumas de minhas contribuições ao Centro Acadêmico de Ciências Sociais da UFMG... Enfim, fiz minhas obrigações, tô de férias e tava entediado. Motivos suficientes para aproveitar o tempo de outra forma mais, digamos, proveitosa. E então tô começando este blog.
Como um bom projeto, há que se ter claro os objetivos e o público-alvo. Começo pelo mais simples, o público-alvo. Bom, o público deste blog será composto por todos aqueles que tenham disponibilidade de tempo o suficiente para cair na besteira de ver o que o PA vai dizer. Acho que é bem reduzido isso, e na verdade não espero mais do que uma meia dúzia de ciêncios(como diz o Gabriel do Povo).
Os objetivos: escrever qualquer coisa que me interesse. Expressar a minha opinião e buscar aprofundá-la e justificá-la - algo que, já me criticam, não sei fazer direito em vida real; espero conseguir aprender por via deste mecanismo virtual. Também tenho o objetivo de compartilhar o que eu achar de interessante pela rede, a começar pelas tirinhas da mafalda, vídeos de música(preparem-se para ouvir muita Mercedes Sosa - talvez eu tenha alguma queda pela Argentina...), entrevistas e textos diversos que chegam a minha caixa de entrada(hoje, caixa prioritária, Santo Google dos 7 dias!).
Bom, com isto posto, acabo com esta postagem e vou mexer no design deste troço. =)